Ainda nem bem nos recuperamos e conseguimos avaliar o impacto da tecnologia do mRNA usado nas vacinas e as empresas seguem desenhando uma ficção, vendem sonhos e ignoram os problemas. A prova dessa política de marketing agressivo está nessa palestra The breakthrough science of mRNA medicine, apresentada em um dos encontros promovidos pelo TED Ideas worth spreading, em Vancouver, no Canadá, em abril de 2022, com uma representante da Moderna.
Essa é a estratégia de comunicação que manipula informação e transforma sonhos em realidade, como se não houvesse problemas com uma ideia fantástica que ainda precisa ser aprimorada. A apresentação da pesquisadora de RNA Melissa J. Moore, diretora científica da Moderna, uma das muitas pessoas responsáveis pela rápida criação e implantação de sua vacina COVID-19, fala das maravilhas dessa nova tecnologia. Sem pudores e tratando as vacinas da sua empresa como eficazes, nos leva ao nível molecular para revelar como o mRNA ajuda as proteínas de nossos corpos a manter saúde, prevenir doenças e corrigir erros em nosso código genético. “Entramos em uma era inteiramente nova da medicina“, diz Moore.
Não preciso ser cientista para duvidar do que ela diz logo na abertura da sua exposição. “Agora, muitas das pessoas que assistem a esta palestra já devem ter recebido uma, duas, três ou até quatro doses de uma vacina de RNA mensageiro. Com bilhões dessas vacinas aplicadas, está claro que essa nova maneira de fazer vacinas é notavelmente segura e incrivelmente eficaz“. Assustador é ver o comportamento da plateia, que só mesmo a psicose coletiva pode explicar.
Ninguém é contra o progresso e seus avanços, mas ninguém é ingênuo a ponto de ignorar os riscos que a pressa traz. Não bastasse a recente crise sanitária, a História está recheada de outros tantos equívocos. Aliás é graças aos avanços do progresso que temos à mão as maravilhas da internet, onde podemos confrontar informações e acessar opiniões diferenciadas. Assim, ouvimos um outro lado sobre a tecnologia do mRNA numa audiência pública, em 20 de outubro de 2021, com a Drª. Gracian Li Pereira, médica, mestre em epidemiologia pela UFRGS. Longe do deslumbre da pesquisadora do TED, faz alguns alertas importantes sobre essa tecnologia, suas perspectivas e seu caráter experimental nesse momento.
De novo e sempre, não se trata apenas de ser contra ou favor. A questão fundamental aqui é o jornalismo cumprir suas premissas básicas. Trazer informação de qualidade, alimentar a conversa para aprofundar o entendimento da realidade e dar condições ao público para tirar as próprias conclusões.