No livro, dediquei um capítulo – Cenas brasileiras – às mazelas teatrais da CPI da Pandemia. Não que faltasse objeto para investigação. Mas o foco lá nunca foi averiguar crimes praticados na carona das decisões equivocadas ou inadequadas do STF. O tempo passa e a verdade aparece.
Para entender, de maneira simples e direta, os efeitos da histeria que acompanhou a pandemia, basta olhar as manchetes dos nossos principais veículos de comunicação, agrupados em um consórcio com fins obscuros, no período.
A combinação de política, ideologia, ciência, oportunismo, cinismo e ambição gerou uma cobertura histriônica que maculou a história de grandes veículos da imprensa nacional. Se servir de consolo, o fenômeno não é nacional. A tradicional mídia mundial deu seu último suspiro com a Covid-19.
A realidade virou um detalhe na cobertura da imprensa. Alinhados com narrativas, que o bom jornalismo desvenda facilmente, se não tivesse optado pelo caminho fácil das certezas e buscasse outros lados das histórias que vendia.
Essa CPI foi um evento emblemático. Durante mais de 6 meses, o Senado foi palco de um espetáculo grotesco, com o pior da política nacional e a anuência da imprensa, que transformou políticos de carreira suspeita, em honrados porta-vozes da liberdade e arautos da Ciência.
A política brasileira, há tempos, como documentaram os escândalos do Mensalão à Lava-Jato, é sórdida e criminosa. O que uma parte dos cidadãos imaginava ficou documentado e, com raríssimas exceções, confirmou que os partidos não passam de um clube, uma ação entre amigos, no melhor estilo mafioso.
O bastidor que viabilizou essa CPI, foi uma ação complexa, com a digital de muita gente, nas mais diversas áreas do poder. O lado visível dessas ações foi a criação do G7 da CPI, composto por Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Rogério Carvalho (PT-SE). Eles deram o tom da comissão que a História não esquecerá.
Passei incontáveis horas acompanhando as sessões da comissão, reli depoimentos nas notas taquigráficas do Senado e chequei informações. As sessões transitaram entre o terror e o humor. A atuação do G7, entre a misoginia, a leviandade e o cinismo, documentou para a História o oportunismo político e ignorância desses senadores. Mas eles não contavam com a memória infinita da internet.
Nunca antes na história do Senado, mulheres foram tão agredidas e desrespeitadas. A Drª Mayra Pinheiro e a Drª. Nise Yamaguchi, profissionais com currículo respeitável, foram destratadas.
A leviandade dos senadores ficou evidente nos depoimentos dos Dr. Ricardo Zimerman e Dr. Francisco Cardoso, quando relator e membros do G7 se retiraram e sabotaram a divulgação de informações, fundamentais para entender a pandemia.
O cinismo do grupo se manifestou em cada interferência, grosseiros e ignóbeis, caçadores de factoides, ignoraram os fatos atrás das narrativas. O famigerado Consórcio Nordeste, por exemplo, protegido lá, acabou exposto na CPI da Assembleia do Rio Grande do Norte.
O folclore político nacional ganhou muito material com essa CPI. Mas nada rouba o constrangimento emblemático da mesma. O troféu vergonha alheia ficou com o senador Otto Alencar (PSD-BA). Ao interpelar a Drª Nise Yamaguchi, sobre a diferença entre um protozoário e um vírus.
Ao longo das quase 9 horas, de um depoimento constrangedor, a médica tentou responder didaticamente aos senadores. Vítima de grosserias e desrespeito, a História tem revelado a coerência das respostas e ações, defendidas pela Drª Yamaguchi.
Nem mesmo a benevolência circunstancial do Consórcio de Veículos da Imprensa, poupa a atuação do G7, como uma das páginas mais patéticas que o Senado acrescentou à sua História. Mas, não estarão sós. Terão a companhia de muitos jornalistas.