Você tem certeza de que a educação está com problemas quando suas melhores universidades estão na contramão das informações disponíveis. Desde outubro, alunos da USP sem comprovantes de vacinação contra Covid-19 atualizados terão sua frequência e notas removidas do sistema da instituição. A UNICAMP foi mais radical e cancelou a matrícula dos alunos que não apresentaram o documento.
Na USP a exigência do comprovante passou a vigorar em outubro de 2021, quando as aulas presenciais foram retomadas. O documento sanitário foi uma exigência também para os alunos que passaram no vestibular, no ato da matrícula, em 2022. Agora, apenas alunos com três doses das vacinas poderão frequentar aulas presenciais e obter notas no segundo semestre.
Na UNICAMP os alunos que não cumpriram as determinações perderam o vínculo com a escola. Não são considerados expulsos porque não houve processo disciplinar sobre o tema. A medida atingiu 1311 estudantes. A exigência do comprovante também vale para os funcionários da instituição.
A medida é descabida e inadequada. Longe de ser uma ação de cuidado com a saúde pública é um ato de militância política. As discussões sobre vacinas já estão noutro patamar. Não se discute mais a eficácia dessas injeções experimentais e sim os eventos adversos que resultam da sua inoculação, com os riscos muito maiores do que os benefícios que pode trazer.
Infelizmente, a ideia de tornar a vacinação obrigatória é uma obsessão de alguns políticos, cientistas e pesquisadores. Um projeto chegou a ser protocolado na Câmara dos Deputados e foi amplamente rejeitado na consulta popular.
No segundo semestre de 2021, quando o comprovante de vacinação para volta às aulas foi adotado, por consenso, entre as reitorias da USP e UNESP, diante de um cenário incerto, parecia a coisa certa ou mais prudente a se fazer.
Agora, diante das informações e discussões disponíveis e novos estudos, as entidades se comportam como igrejas medievais e autoritárias, agarrada a dogmas, incongruentes com a postura científica que deve orientar essas universidades.
A Ciência revê e reformula diariamente informações sobre a pandemia. O uso das vacinas experimentais que, se fizeram algum sentido durante momentos críticos da crise sanitária, hoje oferece mais risco do que benefício àqueles que recebem as injeções.
É curioso que as universidades não promovam uma discussão ampla e geral sobre o tema. Ao contrário, obrigam seus alunos a se vacinarem contra Covid-19. Longe de admitir ou corrigir um erro e aprimorar procedimentos, a universidade exige a terceira dose para o segundo semestre.
Um exercício de poder e força extemporâneo. Na USP, a medida atingiu 0,45% dos 60.000 estudantes da graduação. Um número que ainda deve diminuir, porque alguns alunos estavam vacinados e apenas não haviam apresentado seus comprovantes atualizados. Na UNICAMP, que tem 35.000 alunos, a medida afetou quase 3% deles, a maioria da graduação.
A USP, UNICAMP e a UNESP deveriam oferecer um ambiente arejado para a boa circulação de informação e ajudar na promoção de bons debates para troca de ideias, que pudessem devolver à sociedade, soluções para a crise sanitária e suas consequências.
Uma série de informações equivocadas, que circulam desde o início da pandemia, deveriam ter, nessas instituições, espaço para discussões fundamentais e apropriadas. Por exemplo, o Código Nuremberg, a autonomia de pacientes e a bioética ou até mesmo os interesses que norteiam as pesquisas que sustentam a medicina baseada em evidências como única saída válida.
Onde a política e a imprensa falham, a academia deveria aparecer como espaço da razão, não repetir o comportamento da igreja medieval e seus inquisidores. Para o filósofo austríaco Karl Popper, “uma das coisas mais estúpidas que já se ouviu hoje em dia é ‘eu acredito na ciência’. Se a ciência fosse uma questão de crença, seria chamada de religião. Em vez disso, trata-se de sempre questionar, duvidar e verificar se não há muito dinheiro por trás de uma causa hipotética“.
Vimos e ainda vivemos muito disto nessa pandemia quando a ciência virou doutrina e muito dinheiro justificou a aposta em soluções duvidosas.