Vamos para o terceiro ano da pandemia e ainda pairam dúvidas sobre a eficácia de vários itens que ocuparam nossos dias: lockdown, máscaras, vacinas e tratamentos e as tais evidências científicas.
A guerra contra a ivermectina segue firme e forte. As razões pelas quais ela existe são relativamente simples de entender. Trata-se de uma droga sem patente e disponível com custo muito baixo, de acordo com alguns. A imprensa deveria pautar e apurar esses fatos, sem paixões, para confirmá-los.
O Jornal da USP, na edição de 11/05/22, se debruçou sobre a discussão com o Uso da Ivermectina contra a Covid-19 escancarou danos causados por estudos e periódicos de baixa qualidade. A preocupação era avaliar e esclarecer a qualidade das publicações que divulgam pesquisas favoráveis à droga.
É curioso que esse esforço de reportagem para esclarecimento do tema já começa com uma ideia pré-concebida. A ideia não é descobrir e sim constatar aquilo que acredito ou defendo. A reportagem não ouviu ninguém a favor do fármaco off-label. Eles existam, inclusive alguns laureados com o Prêmio Nobel e censurados. A reportagem, cheia de argumentos, optou por não ouvir o outro lado.
Nessas horas, a investigação com ares de ciência, escorrega para a militância pueril. Entre os entrevistados, 3 médicos e um físico, cuja postura em relação à ivermectina se confunde com sua ideologia.
O físico por sua atuação, imparcial e radical, já havia protagonizado momentos de pura ciência na internet. Parte da polêmica que o Jornal da USP investiga já havia sido exposta em Covid-19: professar da Unicamp faz desafio e ganha aula gratuita de professor da USP.
Uma das diferenças que distingue o jornalismo das redes sociais são fontes e credibilidade. Quando as fontes são ruins, duvidosas ou pouco confiáveis, o resultado será pífio sempre e compromete a credibilidade. É por causa desse jornalismo direcionado que as redes ganham espaço. É lá que o outro lado aparece.
Em mais uma batalha, a edição de 26/05/2022 do Jornal da USP trouxe outra reportagem Caso da Ivermectina é representativo da pseudociência propagada na pandemia. Esse título pomposo pressupõe uma grande investigação mas, na verdade, se restringe à publicação Cureus e ao site IVMMETA.
O foco é o ecossistema das publicações científicas. A reportagem quer esclarecer os meandros do mundo acadêmico e científico. Explica os processos para publicação de pesquisas e artigos científicos, passa superficialmente pelo mecanismo que movimenta carreiras acadêmicas. Para ter uma carreira vitoriosa, com direito a financiamento$ e bol$a$, o cientista deve publicar regularmente. Quanto mais publicações tiver mais rápido será seu progresso profi$$ional.
Isto explica porque existem tantos locais para publicação de artigos. Evidentemente, nem todos gozam de boa fama ou reputação ilibada. Como aponta a reportagem. Mas é fato que todos têm telhado de vidro e, no limite, contas à honrar. O que explica tudo, mas não justifica nada!
A editora-chefe do British Medical Journal, Drª Fiona Godlee, experiente profissional e com alguma independência, entende que nesse mundo há uma combinação de interesses comerciais das indústrias farmacêuticas e das instituições acadêmicas que nem sempre tem disposição para enfrentar as fraudes nas pesquisas médicas.
A guerra contra a ivermectina ilustra essa situação de maneira primorosa. A reportagem, longe da imparcialidade que se espera do bom jornalismo, seguiu fontes amparadas numa linha de raciocínio que se apoia na Medicina Baseada em Evidências. Um viés relevante, mas longe de encerrar a questão. O Dr. John Campbell apresenta um estudo sobre a ilusão da medicina baseada em evidências, como foi corrompida por interesses corporativos, as falhas na regulamentação e critica a comercialização da academia.
Essas discussões deveriam dar tranquilidade e segurança aos leitores. Mas com a ciência mancomunada com a política e a militância travestida de metodologia científica, toda desconfiança é bem vinda!