A pandemia da C19 é uma experiência que jamais devemos esquecer. Isto sem falar nas lições que deixa. Serviu de base para experimentos autoritários, deu voz a políticos medíocres e expôs uma nova imprensa que abriu mão dos velhos rudimentos da busca pela informação.
Quando pesquisava para o livro me deparei com um processo aberto pela União Europeia, em 2010, contra a OMS. Para quem gosta de fake news é interessante notar que as investigações no Parlamento Europeu acusavam a agência sanitária de ter promovida uma falsa pandemia em 2009.
Naquele período mais de 60 milhões de pessoas foram vacinadas. A maioria crianças. Estudos posteriores comprovaram que alguns efeitos danosos atingiram mais de 800 crianças que tiveram danos cerebrais. Uma decisão na justiça britânica, em 2014, reconheceu e indenizou 60 dessas vítimas com US$ 1,7 milhão para cada uma. Um custo que passou dos US$ 100 milhões para os cofres do Governo.
Sem meias palavras, o presidente do Comitê de Saúde do PACE (Assembleia Parlamentar do Conselho Europeu) , dr. Wolfgang Wodarg, disse na ocasião: “a falsa pandemia de gripe suína foi um dos maiores escândalos da medicina do século”. No relatório final, o relator Paul Flynn (Reino Unido) disse que “faltou transparência na tomada de decisões da agência diante da pandemia“. Dez anos depois, o mesmo filme se repete. Quem não aprende com o passado corre o risco de repetir seus erros.
Um bom material para imprensa trabalhar nesses tempos de fake news e especialistas em profusão. Ótima oportunidade para entender os conflitos de interesse que agitam os bastidores da notícia.
Lições à parte, o principal ensinamento dessa pandemia é que devemos confiar desconfiando sempre. Especialistas, pesquisadores, cientistas, médicos, políticos e qualquer tipo de autoridade está a um passo de uma tentação oportunista. O brilho fácil da popularidade é sedutor. Não existe organismo ou autoridade imune ao erro. O bom jornalismo funciona como a consciência ética e moral da sociedade. Longe das certezas e em permanente estado de dúvida.